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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

JOSÉ DUARTE LIMA ELIAS

«Fidalgo de  ... raça»
«D. António Gastão de Pimpinela
Sampaio d´Azevedo Alvo e Faria
é fidalgo de ´nobre` jerarquia

Um seu avô esteve na Rochela
quando Henrique Terceiro a combatia
outro, ´Arrojado herói`, sem covardia...
fez fortuna na Índia ... com canela!

Seu mais remoto avô foi Dom Prior
no ´Santo` tribunal, inquisidor,
´Salvando` muitas almas ... na fogueira!...

Esse Prior jamais poude saber
o nome de seus pais ... ouviu dizer
que haviam sido ... um frade e uma freira!...»

in "Em Lisboa - Ridículos e Typos"

terça-feira, 23 de agosto de 2011

AMÉRICO TELO

CAMINHOS




Os caminhos do homem
cruzam-se ali na esquina ao lado
qual machado de pedra e de sangue para moldar
calam-se fundo nas vitórias
superadas de fome e rituais de miséria
torturados, íngremes de almejar


- por vezes a queda é proporcional à altura


os caminhos do homem
afundam-de no passar atónito
descobriu, sucumbio
à passagem do ontem para o agora


- por vezes cair a cada passo não basta


os caminhos do homem
quebram-se em cada jornada quotidiana
onde o inferno nem sempre é o fogo


- a morte é proporcional à força da violência


os caminhos do homem
vertem o nosso fim onde o princípio não se esgota.


Américo Telo
in "7 memórias para 7 dias"

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Fernando Estremoz


TEMPO DE ESCOLA



A memória murcha no tempo

Das palavras repetidas

Das seis reguadas

E três ponteiradas

Trauteadas

Como os números da tabuada

Em lenga-lenga

Cantarolada todos os dias da semana

De manhã e de tarde


De fio a pavio

   Quatro e quatro oito

    Um biscoito

    Oito berlindes à “marezinha”

    Oito bonecos da bola à “palmadinha”


De trás para diante

    Duas vezes cinco dez

    É à vez

    Dez botões à “paredinha”

    Dez voltas ao “pé-coxinho”

    Dez marcas ao “poialinho”


Da frente para trás

    Cinco vezes dois dez

    E à “covinha” buto que se veja

    E estalo que se ouça


O regime do medo

    O som do ponteiro

    Ao canto o degredo

    As orelhas de burro

    A régua dura

    O ensino da ditadura

E o tempo a passar

   A recontar

      Duas vezes três seis

   A repetir

      Duas vezes três seis

   A trautear

      Oito e oito dezasseis

E lá chega a hora

Do recreio na eira

   A lançar o ring

   A menina do senhor doutor

   A  saltar à corda

      A Rosa da Toina e a moça da Benta

   E ao “apanha”

      O Zé da boina e o Patinha

   E ao “toca e foge”

      O Luís da canita e o Zé da Sanita

   E a “pular à uva”

      O Broa e o Papa Açorda


   E ao pião “à nicada”

      O Biji-bitó o Ratinho e o Maló

   E nas macacadas o Xico Caretas

   A parodiar o Manel das Bufas Pretas


E toca a sineta


No regresso à tormenta

De novo a ardósia

Mil vezes usada

Ensebada e requebrada

Com lápis de pedra

   Mais uma vez a tabuada

     Duas vezes dois quatro

   Sem enganar

     Duas vezes dois quatro

E repetir...

E repetir...

Fernando Estremoz 
24.02.02