TEMPO DE ESCOLA
A memória murcha no tempo
Das palavras repetidas
Das seis reguadas
E três ponteiradas
Trauteadas
Como os números da tabuada
Em lenga-lenga
Cantarolada todos os dias da semana
De manhã e de tarde
De fio a pavio
Quatro e quatro oito
Um biscoito
Oito berlindes à “marezinha”
Oito bonecos da bola à “palmadinha”
De trás para diante
Duas vezes cinco dez
É à vez
Dez botões à “paredinha”
Dez voltas ao “pé-coxinho”
Dez marcas ao “poialinho”
Da frente para trás
Cinco vezes dois dez
E à “covinha” buto que se veja
E estalo que se ouça
O regime do medo
O som do ponteiro
Ao canto o degredo
As orelhas de burro
A régua dura
O ensino da ditadura
E o tempo a passar
A recontar
Duas vezes três seis
A repetir
Duas vezes três seis
A trautear
Oito e oito dezasseis
E lá chega a hora
Do recreio na eira
A lançar o ring
A menina do senhor doutor
A saltar à corda
A Rosa da Toina e a moça da Benta
E ao “apanha”
O Zé da boina e o Patinha
E ao “toca e foge”
O Luís da canita e o Zé da Sanita
E a “pular à uva”
O Broa e o Papa Açorda
E ao pião “à nicada”
O Biji-bitó o Ratinho e o Maló
E nas macacadas o Xico Caretas
A parodiar o Manel das Bufas Pretas
E toca a sineta
No regresso à tormenta
De novo a ardósia
Mil vezes usada
Ensebada e requebrada
Com lápis de pedra
Mais uma vez a tabuada
Duas vezes dois quatro
Sem enganar
Duas vezes dois quatro
E repetir...
E repetir...
Fernando Estremoz
24.02.02
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