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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Fernando Estremoz


TEMPO DE ESCOLA



A memória murcha no tempo

Das palavras repetidas

Das seis reguadas

E três ponteiradas

Trauteadas

Como os números da tabuada

Em lenga-lenga

Cantarolada todos os dias da semana

De manhã e de tarde


De fio a pavio

   Quatro e quatro oito

    Um biscoito

    Oito berlindes à “marezinha”

    Oito bonecos da bola à “palmadinha”


De trás para diante

    Duas vezes cinco dez

    É à vez

    Dez botões à “paredinha”

    Dez voltas ao “pé-coxinho”

    Dez marcas ao “poialinho”


Da frente para trás

    Cinco vezes dois dez

    E à “covinha” buto que se veja

    E estalo que se ouça


O regime do medo

    O som do ponteiro

    Ao canto o degredo

    As orelhas de burro

    A régua dura

    O ensino da ditadura

E o tempo a passar

   A recontar

      Duas vezes três seis

   A repetir

      Duas vezes três seis

   A trautear

      Oito e oito dezasseis

E lá chega a hora

Do recreio na eira

   A lançar o ring

   A menina do senhor doutor

   A  saltar à corda

      A Rosa da Toina e a moça da Benta

   E ao “apanha”

      O Zé da boina e o Patinha

   E ao “toca e foge”

      O Luís da canita e o Zé da Sanita

   E a “pular à uva”

      O Broa e o Papa Açorda


   E ao pião “à nicada”

      O Biji-bitó o Ratinho e o Maló

   E nas macacadas o Xico Caretas

   A parodiar o Manel das Bufas Pretas


E toca a sineta


No regresso à tormenta

De novo a ardósia

Mil vezes usada

Ensebada e requebrada

Com lápis de pedra

   Mais uma vez a tabuada

     Duas vezes dois quatro

   Sem enganar

     Duas vezes dois quatro

E repetir...

E repetir...

Fernando Estremoz 
24.02.02   

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